Talvez por estarmos quase no Natal e ter à minha volta netos e bisnetos alguns ainda bem pequeninos, apeteceu-me contar recordações e histórias da minha infância.
Tinha 6 anos e era dia 1 de Janeiro, Estava encostada à janela da cozinha com a testa apoiada no vidro e a ver cair flocos de neve na minha frente, Sabia que era neve porque me tinham dito. Atrás de mim ouvia a voz da minha Avó falando com as criadas e o barulho normal dos preparativos para o almoço do primeiro do Ano, rodeada de tios e primos. É estranho porque não me lembro de ver ou ouvir os meus Pais numa altura em que ainda não estavam divorciados.
Os meus pensamentos corriam entre a neve e o livro da Condessa de Ségur, As Meninas Exemplares, que tinha encontrado na manhã de Natal no meu sapatinho deixado na chaminé . Julgo que foi a última vez que acreditei que era o Menino Jesus que nos dava os presentes...
A minha ânsia de ler era tanta que aos 5 anos já tinha aprendido com o meu Avô a ler o jornal. E a partir desse dia nunca mais deixei de ler.
A história do livro, a neve, o ambiente familiar ofereciam-me um conforto que era um misto de alegria, de protecção mas aos quais se juntava uma sensação estranha que não conseguia explicar e que só muito mais tarde aprendi que se chamava "angústia" e que me foi sempre dificil perceber de onde vinha e porquê.
Mas quando me vi sentada à mesa, encantada com os pratos decorados pela minha Avó, e a ouvir a conversa entre o meu Avô que eu adorava,e os meus tios e amigos da família esqueci aquela sensação que não conhecia para voltar à alegria que fazia parte da criança curiosa e ávida de vida que sempre fui e continuei sendo com alguns intervalos em que a "angústia" voltava! Porquê? Continuos sem saber...
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